Algum tempo após o Concílio de Nicéia, celebrado em 325, os arianos, intrigantes e bajuladores, principiaram a envolver em artimanhas o imperador Constantino que, de resto, nem sequer batizado era, e a fazê-lo chamar o ímpio Ário do exílio para onde ele o havia condenado. Seu filho Constâncio, que lhe sucedeu, fez ainda pior; conturbou toda a Igreja, e perseguiu quase todos os bispos católicos, durante o seu reinado de vinte e cinco anos.
Depois, devotado aos arianos, Juliano, o Apóstata, empenhou-se em restabelecer o paganismo. Após Juliano, morto seu sucessor Joviano depois de oito meses de reinado, Valente, imperador do Oriente, perseguiu novamente os católicos em favor do arianismo. Sempre a Igreja teve o que sofrer.

A vida privada de Santo Atanásio não foi menos admirável. Grande em suas obras, diz São Gregório Nazianzeno, foi humilde de coração: de uma verdade inatingível; era, não obstante, acessível a todos, doce, afável, sem cólera, compassivo, amável nas prédicas, mais amável ainda na conduta, repreendendo com doçura, louvando de molde a instruir, indulgente sem fraqueza, firme sem dureza.
As pessoas de todas as condições encontravam nele algo que admirar, que imitar. Era fervoroso e assíduo nas orações, austero nos jejuns, infatigável nas vigílias e no canto dos salmos, cheio de caridade para com os pobres, condescendente para os humildes, intrépido contra os soberbos, dedicando-se, enfim, a todos para ganhá-los a Deus.
Mas de que manancial hauriu tanta virtude? Na juventude passou um tempo considerável sob a orientação de Santo Antão, a quem servia como discípulo. Foi nesse noviciado que aprendeu a meditar e imitar a Jesus Cristo: a meditar nos mistérios da sua encarnação, de seus sofrimentos e de sua morte, para imprimir em si próprio os principais traços. Façamos como ele; na medida em que a regra e a caridade nos permitam, apliquemo-nos ao silêncio, ao recolhimento, à meditação e à imitação de Jesus Cristo, a fim de obter as graças necessárias para agir com prudência e piedade no meio dos homens.

Após estes testemunhos insuspeitos, vê-se que a força dos julgamentos eclesiásticos dependia desde então, como ainda hoje, do assentimento do Papa.
O exílio de Santo Atanásio no Ocidente constituiu um manancial de bênçãos que ainda persiste. Primeiramente, aqui se fez conhecer a vida propriamente monástica. Até então os monges eram desconhecidos ou desprezados, sobretudo em Roma, cidade de luxo e de prazer. Mas quando Santo Atanásio se refugiou com o Papa Júlio, veio acompanhado de dois monges distintos: Amônio e Isidoro. O primeiro tão absorto estava nas coisas divinas, que não se dignou admirar qualquer dos soberbos monumentos de Roma; não visitou senão a Igreja de São Pedro e São Paulo. O segundo, por sua sabedoria e por uma amenidade toda celeste, produziu tão ampla impressão, que os próprios pagãos o amavam; muitos romanos lhe imitaram na vida. Dessarte, a vida monástica encontrou o caminho para Roma, e expandiu-se brevemente, sempre por Atanásio, nas Gálias.
Mantinha com os monges deste país contato assíduo, e escreveu para eles a vida de Santo Antão, com o fito de lhes proporcionar um exemplo. Este exemplo, por sua vez, empenhou-se em imprimi-lo neles próprios.
Padre Rohrbacher
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