Homilia de D. Henrique Soares da Costa - I Domingo do Advento
Lucas 21,25-28.34-36
Disse Jesus a seus discípulos: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das ondas. Os homens definharão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra. As próprias forças dos céus serão abaladas. Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade. Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação. Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso. Como um laço cairá sobre aqueles que habitam a face de toda a terra. Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem”.
Louvado Seja o Nosso Senhor Jesus Cristo
Caríssimos irmãos no Senhor, estamos começando hoje um novo Ano Litúrgico; é o princípio de mais um ciclo de tempo sagrado para celebrar na liturgia o santo mistério do Deus que nos salvou em Cristo Jesus. Celebramos o mistério de Cristo na sagrada Liturgia e, com ela, enchemos nossa vida do bom odor de Cristo e do gosto das coisas do céu! Pois bem, irmãos no Senhor, cuidemos de viver piedosamente este novo ano que ora começa!
E o primeiro mistério que se celebra no arco do ano da Igreja é, precisamente, o santo Tempo do Advento, que faz memória da longa espera do povo de Israel e de toda a humanidade. Espera? Que espera? Pensemos, caros no Senhor, pensemos no coração humano, recordemos a história humana e veremos que toda a nossa existência é uma saudade, uma espera, uma ânsia.
O homem é cativo da esperança! Espera a paz, espera a felicidade, espera a plenitude, espera a vida, espera vencer a morte! Os pagãos, sem saber bem o que esperavam, ainda assim, esperavam... Esperavam e esperam! Por sua vez, os judeus, o povo da antiga aliança, esperava sabendo o que esperava... Sabia porque Deus prometera um Messias, um Salvador. Com esse bendito Enviado de Deus, toda graça e toda bênção seriam dadas a Israel e a toda a humanidade. Nos dias do Messias, o Senhor iria derramar seu Espírito sobre toda carne e Israel seria salvo e a humanidade descansaria em paz... Pois bem, o Tempo do Advento celebra essa espera e coloca diante dos nossos olhos as promessas que Deus fez ao seu povo e a toda a humanidade. Exatamente porque é tempo de espera, a cor deste período é o roxo, de quem vigia e aguarda; por isso também a ornamentação simples da Igreja... É tempo de esperar, como o vigia espera pela aurora, como a amada espera pelo amado, como a flor espera pelo orvalho...
Mas, essa celebração da espera, própria do Advento não é um faz-de-conta! Nada disso! Esta espera nos faz recordar que Aquele que veio para nós em Belém, nascido de Maria a Virgem, virá como Juiz e Senhor nos final dos tempos. Diz o Catecismo da Igreja: “Jesus Cristo é o Senhor: possui todo poder no céu e na terra. Esta acima de toda autoridade, poder, potentado e soberania, pois o Pai tudo submeteu a seus pés. Cristo é o Senhor do cosmo e da história. Nele, a história do homem e mesmo toda criação encontram sua recapitulação, sua consumação transcendente” (n. 668). Portanto, caríssimos, é preciso que nos preparemos para ele por uma vida de vigilância e santidade! Por isso mesmo, as duas primeiras semanas do Advento nos fazem pensar na segunda vinda do Cristo, quando ele aparecerá em glória, cumprido tudo quanto Deus nos prometera e levando à consumação a sua obra. Disso nos falam as leituras deste Domingo.
Pela boca do profeta Jeremias, Deus prometia à Casa de Israel – e tal promessa é válida para nós, novo Israel: “Eis que virão dias em que farei cumprir a promessa de bens futuros para a casa de Israel! Naqueles dias, naquele tempo, farei brotar de Davi a semente da justiça; Judá será salvo e Jerusalém terá uma população confiante. Este é o nome que servirá para designá-la: ‘O Senhor é a nossa justiça’!” Esta promessas, irmãos, não diz respeito somente ao passado, à primeira vinda do Cristo, descendente de Davi; diz respeito ao nosso futuro, àquilo que Deus nos prepara. E o que nos prepara? A manifestação gloriosa e salvífica do seu Filho Jesus Cristo! Aquele que veio na humildade de nossa carne em Belém, manifestar-se-á na plenitude da glória, no tempo que somente o Pai conhece, e tudo e todos serão nele examinados, nele tudo será julgado e nele encontrará o destino definitivo, de salvação ou perdição eterna: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas... Os homens vão desmaiar de tanto medo, só de pensar no que vai acontecer ao mundo. Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória”. O que nossa fé nos ensina, caríssimos, é que tudo caminha para o Cristo: a criação, a história, a nossa vida... Daí a nossa responsabilidade em viver com sabedoria os dias de nossa peregrinação neste mundo: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós!” A tentação é grande, irmãos! Mais que nunca somos solicitados pelo mundo a viver no consumismo, no excesso de distrações, de futilidades, de uma vida dispersa e superficial. Querem nos fazer esquecer que aqui estamos de passagem, que nossa plenitude se encontra somente em Cristo nosso Deus e que haveremos, um dia de comparecer ante o tribunal do Senhor Jesus! Vigiemos, pois! Cuidemos de estar atentos ao Senhor, “pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes da terra!”
Caríssimos, quando o Senhor nos fala dessas coisas não é para amedrontar ou nos fazer terrorismo! Nada disso! O objetivo do nosso Deus é nos recordar com toda a seriedade a respeito da responsabilidade que temos em viver com sabedoria a única existência que nos foi dada; assim estaremos prontos para o encontro com o Senhor quando ele vier! Vigiemos, oremos, sejamos amigos de Cristo, sejamos fiéis filhos de nossa santa mãe católica, vivamos em paz, valorizando os dias de nossa vida, e a Vinda do Senhor será para nós salvação e alegria. Com estes santos pensamentos, vivamos este belíssimo tempo do Advento que hoje começa, na doce esperança do Cristo nosso Deus. A ele a glória pelos séculos, Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
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