Alberto nasceu em 1206 e não em 1193 como alguns historiadores defendem sua terra natal – Lauingen (ou Laningen na Suábia) – encontra-se próxima do Danúbio.
Filho primogénito do conde de Bollstaedt (família feudal poderosa e rica, devota a Frederico II) recebe uma formação esmerada. Ainda adolescente, Alberto é levado até ádua, onde sob as orientações de um tio – provavelmente eclesiástico – realiza os seus estudos.
O segundo Mestre Geral da Ordem dos Pregadores, Jordão da Saxónia, em 1223 visita a cidade de Pádua, com o intuito de pregar aos jovens estudantes da referida cidade. O fruto desta pregação reverteu em muitas vocações para a Ordem, entre elas a do nosso Alberto Magno. Apesar da oposição do seu tio, dos seus companheiros e a do seu próprio pai, aos 16 (ou 17) anos Alberto dá entrada nos Dominicanos. Para completar os estudos iniciados é enviado para o Convento de Colónia. Será neste mesmo Convento que alguns anos mais tarde, Alberto iniciará a sua carreira docente interpretando o Mestre das Sentenças. Foi sucessivamente Leitor de Teologia nos conventos de Hildesheim, Fribourg, Ratisbona (durante dois anos) e Strasbourg.
Em 1240, Alberto é enviado a Paris para alcançar o título de Mestre em Teologia (1244 ou 1245) e reger uma das duas cátedras dominicanas do Convento de Saint Jacques, incorporadas à universidade. Será nesta época que Alberto começa, em paralelo com o ensinamento da teologia, a publicação da sua vasta enciclopédia científica que lhe valeu a sua incomparável celebridade, completando-a até ao final da sua vida, embora aquela tenha ficado terminada em grande parte em 1256.
No final do ano lectivo de 1248, Alberto deixa Paris a pedido do Capítulo Geral desse ano para presidir a um dos quatro novos studia generalia, ou seja, o de Colónia. Tirando as numerosas ausências, esta cidade será, até ao final da sua vida, a sua residência oficial, o que lhe valeu entre os seus contemporâneos, como vimos, a nomenclatura de Alberto de Colónia. Este novo período da vida de Alberto é marcado pela intensidade da sua actividade literária. Entre os seus discípulos de Colónia encontra-se Tomás de Aquino.
Em 1254 o Capítulo provincial da Alemanha confia a Alberto o governo da província, missão que realizará com empenho. Dois anos mais tarde, sendo ainda provincial, dirige-se à Cúria Romana para defender os Pregadores contra os ataques de Guilherme de Saint Amour
Durante a sua estadia na Cúria ocupa o cargo de Leitor e interpreta, a pedido do Papa e dos seus cardeais, o Evangelho de São João e todas as Epístolas canónicas. Será também durante esta permanência que Alberto, por Durante a sua estadia na Cúria ocupa o cargo de Leitor e interpreta, a pedido do Papa e dos seus cardeais, o Evangelho de São João e todas as Epístolas canónicas. Será também durante esta permanência que Alberto, por recomendação do Papa Alexandre IV, escreverá contra a teoria averroísta da unidade da inteligência o seu tratado De unitate intellectus. Nesta sua viagem percorrerá o sul de Itália, e como normalmente nas suas outras deslocações, Alberto aproveitará para fazer as suas investigações científicas, descobrindo o De motibus animalium de Aristóteles, sobre o qual publicará posteriormente um comentário.
Alberto regressa a Colónia em 1257. Nesse mesmo ano o Capítulo Geral de Florença dispensa-o das suas obrigações como provincial para melhor se dedicar ao ensino. Na primavera de 1259, no Capítulo Geral de Valenciennes, Alberto, juntamente com Tomás de Aquino e Pedro de Tarentaise, futuro Inocêncio V, elaboram a celebérrima Ratio para os estudos na Ordem. No início de Janeiro de 1260, Alberto é nomeado pelo Papa bispo de Ratisbona, embora o Mestre da Ordem – Humberto de Romans – tenha dirigido esforços no sentido de evitar esta nomeação.
Como é hábito em Alberto, mais uma vez aceitará esta missão com todo o empenho e dedicação. Porém, a necessidade de se misturar com graves encargos temporais, num tempo onde as Igrejas da Alemanha viviam todavia um regime feudal, impele o novo bispo, mais amante do estudo do que da guerra, a resignar do cargo na primavera de 1262. No ano seguinte, o Papa Urbano IV designa Alberto como pregador da Cruzada pela Alemanha, pela Boémia e por outros lugares de língua teutónica. Esta missão fê-lo percorrer a Alemanha, em todas as direcções, durante os anos de 1263 e 1264: de Ratisbona a Colónia, mesmo até às fronteiras da Polónia.
A vida de Alberto é marcada por um espírito apaziguador. Desde 1265 até 1267 encontrámo-lo em Wurzbourg, onde, como em Colónia, desenvolve um trabalho em favor da paz, continuando a estudar e a escrever. Em meados de 1267, dominus Albertus, assim chamado até ao final da sua vida, oferece ao Mestre da Ordem, João de Verceil, a sua disponibilidade para retomar o ensino. O Mestre aceita com reconhecimento esta oferta, sonhando mesmo, por um instante, enviá-lo de novo como professor a Paris. É, contudo, o studium de Colónia que o recebe mais uma vez. Mesmo sendo esta a sua residência oficial, Alberto deslocar-se-á frequentemente para fora desta cidade entre 1268 e 1277. Nestas viagens, por diferentes pontos da Alemanha, descobrimos Santo Alberto em vários campos pastorais, tais como, consagrando novas Igrejas, ordenando sacerdotes.
Em 1270, durante a luta mantida em Paris entre Tomás de Aquino e Siger de Brabante, o Mestre Alberto escreve uma memória em que refuta as teorias fundamentais do peripatetismo averroísta. No ano de 1274, Alberto participará activamente no segundo Concílio de Lyon, juntamente com mais 29 Bispos Dominicanos e alguns teólogos da Ordem. Três anos mais tarde, em 1277, vemos Alberto novamente a deixar Colónia para dirigir-se a Paris em defesa do seu discípulo e irmão Tomás de Aquino. Gesto mais do que nobre, é sem dúvida bem significativo. Como entender este acto? Como sabemos, Tomás de Aquino falecera a caminho do Concílio de Lyon, e nesse período de tempo levantaram-se várias acusações contra o aquinate. Tanto o bispo Étienne Tempier de Paris, como os mestres seculares da faculdade de Teologia da dita cidade, procuraram envolver as doutrinas de Tomás de Aquino com os erros averroístas. Poderíamos chegar a pensar que a razão da defesa de Alberto está na ideia de que a condenação do discípulo Tomás reverteria contra o mestre; porém, acreditamos que o que motiva tão apreciável atitude não é mais do que o
amor pela Verdade.
De regresso a Colónia, o mestre Alberto escreverá em Janeiro de 1278 o seu testamento. Considera-se o seu último gesto importante da sua vida lúcida. O cérebro dohomem que tivera absorvido a ciência da antiguidade e do seu século sucumbia sob o peso do trabalho e dos anos. Alberto perdia a memória e a sua razão enfraquecera.
Tomado por frequentes crises de choro, sobretudo ao recordar o seu discípulo Tomás de Aquino, Alberto morre em 15 de Novembro de 1280, com a idade de 74 anos. E como estamos num tempo em que se fala tanto de beatificações, fique então registado que Alberto Magno foi beatificado em 27 de Novembro de 1622 pelo Papa Gregório XV. Foi canonizado e declarado Doutor da Igreja por Pio XI, em 16 de Dezembro de 1931. Exactamente dez anos depois, Pio XII, por carta apostólica, declara-o patrono dos
estudantes das Ciências Naturais.
Escritos de Alberto Magno
A actividade literária de Santo Alberto Magno aparece incontestavelmente como a maior de toda a Idade Média. Estende-se a quase todas as ciências profanas e sagradas. Duas edições dos seus escritos, embora incompletas, foram publicadas sob o título de Opera omnia. A primeira, do dominicano Pedro Jammy, compreende 21 volumes (Lyon 1651). A segunda, do abade Borgnet, começada em 1890 atinge 38 volumes (Paris 1890-1899). Um grande número das obras do mestre Alberto foram editadas separadamente ou em grupo. Algumas tiveram numerosas edições. A partir de 1951 o Albertus-Magnus-Institut de Colónia, primeiro sob a direcção de Bernhardo Geyer e depois de Wilhelmo Kübel, publicou uma edição crítica em 40 volumes, conhecida por Editio Coloniensis
Influência de Santo Alberto Magno
A acção intelectual exercida pelo mestre Alberto na Idade Média foi provavelmente de todas a mais fecunda, sem excluir a de Tomás de Aquino que, voltada para um campo mais restrito, foi mais profunda e mais durável. Penso mesmo que o discípulo ofuscou o mestre, embora seja uma afirmação temerária, visto que para tal conclusão – honestamente – seria necessário um domínio considerável do pensamento destes dois vultos. Mas a verdade é que, e a História do pensamento cristão o poderá confirmar, Tomás de Aquino assumiu um lugar de destaque, abrindo uma nova via de pensamento, uma forma nova de ver e de entender o homem e o mundo. Contudo, no dizer de Pierre Mandonnet: “Tomás foi um rio, Alberto uma torrente”.
Alberto Magno aparece, como o seu discípulo Tomás de Aquino, na linha da frente de uma minoria audaz das primeiras gerações da nossa Ordem, que em confronto muitas vezes com posições conservadoras dentro da Ordem, não hesitou, em prol da Verdade na Igreja do seu tempo, em abrir novas vias ao pensamento cristão. Podemos sintetizar três características principais em Santo Alberto Magno:
a) a vastidão enciclopédica do seu conhecimento;
b) a decisão de integrar no pensamento cristão tradicional o contributo
válido de Aristóteles;
c) a sua aspiração para o estabelecimento de uma síntese teológica do saber.
Influência de Santo Alberto sobre as Ciências
A acção literária e intelectual de Alberto está ligada intimamente ao trabalho de assimilação da ciência antiga que se opera especialmente na Europa, no século XIII. Alberto foi o primeiro e o maior intermediário a contribuir para o conhecimento do seu tempo através do conjunto das ciências grega, latina e árabe. Dotado de uma actividade e de uma faculdade de assimilação surpreendentes, membro de uma ordem religiosa que, voltada primeiramente para o estudo, prepara um meio especial para a cultura científica, Alberto assume um papel revelador numa época onde o progresso do espírito científico conhece alguns entraves. Curiosamente o seu trabalho enciclopédico avança soluções para diversos problemas urgentes do seu tempo. O seu vasto empreendimento permitiu o contacto com todos os grandes resultados da ciência antiga ou estrangeira, dispensando em grande parte a necessidade da consulta das fontes, tantas vezes raras e só acessíveis em manuscritos. O próprio mestre Alberto, embora com condições excepcionalmente favoráveis, declara as suas dificuldades na recolha de escritos –fragmentados – de Aristóteles
Influência de Alberto sobre a Teologia
A acção de Alberto no campo da Teologia é menos representativa do que no âmbito da Filosofia. É, no entanto, com Alberto Magno que se inaugura o movimento teológico que encontra em São Tomás de Aquino o seu chefe. O mestre Alberto foi o primeiro a utilizar os novos conhecimentos filosóficos para os colocar ao serviço da construção de um corpo teológico. Se é certo que nos seus ensaios não encontramos a reserva e a firmeza de Tomás, pela falta do seu génio sóbrio e sintético, todavia não hesitou e compreendeu que a Teologia poderia beneficiar da Filosofia. Nesta tentativa, substituiu as concepções filosóficas de Aristóteles pelas de Platão que formavam, em diferentes pontos, os alicerces do dogma agostiniano, e preparou assim o caminho para Tomás de Aquino, o discípulo cuja reputação superou e ofuscou a sua. Alberto num número considerável de questões manteve-se ainda ligado ao antigo augustinismo.Alberto Magno não constituiu, propriamente falando, uma escola teológica independente. Talvez se poderá falar nesse aspecto em relação a Tomás de Aquino que assume esta nova direcção teológica. Embora seja sempre discutível saber se em Tomás encontramos um novo paradigma teológico, reconheço que seria temerário, da minha parte, pronunciar-me sobre esta questão, mas não tenho dúvidas de que em Tomás de Aquino abre-se um campo novo para a reflexão teológica.
“Quae diligenter quaesivi per diversas mundi regionis”, ALBERTO MAGNO, De Mineralibus, l. III, tr. I, c. I.
“Et scias, quod non perficitur homo in philosophia nisi ex scientia duarum philosophiarum Aristotelis et Platonis”, ALBERTO MAGNO, Metaphysica. Libros quinque priores, Westfalen 1960, l. I, tr. V, c. XV, p. 89
Cf. Phys. I,1,1.
Cf. II Sent. 13,2.
Cf. Phys. II,2,19.
Cf. Summa Theologiae IIa, q.1,4,1,1.
Metaph. I,1,1.
Cf. Summa Theologiae, Ia q.1,4,2,1.
Cf. SIGER DE BRABANT, De anima intellectiva, III, p.152.
ROGER BACON, Opera, ed. Brewer, p.30.
Cf. Hans KÜNG, Os grandes pensadores do Cristianismo, Lisboa, Presença, 1999, pp. 97-121.
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