segunda-feira, 29 de abril de 2013

Santa Catarina de Sena - Benevolente mãe dos pobres - 29 de Abril

Lutou pela paz na Cristandade e pela realização da cruzada conta os infiéis

Para humilhar os homens da época dessa Santa, Nosso Senhor disse: "Enviar-lhes-ei mulheres ignorantes e fracas pela natureza, mas sábias e poderosas por minha graça, a fim de confundir seu orgulho". Uma dessas mulheres foi Santa Catarina de Siena, Cuja festa comemora-se a 29 de abril, a quem Ele dirigiu estas palavras.

No ano da graça de 1347, Lapa Benincasa deu à luz a duas gêmeas em seu vigésimo quarto parto. Uma delas não sobreviveu ao batismo. A outra, Catarina tornar-se-ia a glória de sua família, de sua pátria, da Igreja e do gênero humano.



Giacomo de Benincasa, seu pai, era um tintureiro bem estabelecido, homem simples, leal, temeroso de Deus e cuja a alma não estava cantaminada por nenhum vício; piedoso e trabalhador, criava sua enorme familia (teve 25 filho de um só casamento!) no amor e no temor de Deus.


Catarina, a penúltima da família e caçula das filhas, teve a predileção de todos e cresceu num ambiente moral puro e religioso.


Como a Providência divina tinha desígnios especiais sobre ela, desde cedo Catarina foi cumulada de favores celestes, privando com Anjos e Santos. Aos sete anos fez voto de virgindade; aos 16 cortou sua longa cabeleira para evitar um casamento, e aos 18 recebeu o hábito das Irmãs da Penitência de São Domingos, Vivia já aos 20 só de pão e água. Foi agraciada com favores sobrenaturais como o “casamento místico”, recebeu estigmas semelhantes aos de Nosso Senhor, e teve uma “morte mistica” durante a qual foi levada em espírito ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso; teve também uma “troca mística de coração” com Nosso Senhor.

Analfabeta, aprendeu a ler e escrever milagrosamente para poder cumprir a missão pública que Deus lhe destinava. Dirigia um número enorme de discípulos, os caterinati, entre os quais se encontravam gente do clero, da nobreza e do povo mais miúdo. Um dele, o bem aventurado Raimundo de Cápua, seu confessor, foi também seu primeiro biógrafo. É dele que sabemos pormenores dessa impressionante vida.

Todos seus contemporâneos dão testemunho de seu extraordinário charme, que prevalecia ainda  em meio da contínua perseguição à qual ela foi sujeita, mesmo da parte dos frades de sua própria Ordem e de suas irmãs em religião.

O Evangelista São João e o Doutor Angélico dão-lhe lições.

Catarina amava apaixonadamente a Igreja Católica e sofria vendo seus males. Suas obras externas consistiam até então em assistir os pobres e doentes e dirigir seus discípulos. Mas era chegada a hora de ela também, a exemplo do Divino Mestre, começar sua vida pública. Para isso, recebeu ordem formal de Nosso Senhor, que lhe prometeu sustentá-la com sua graça. Que ela nada temesse.

Ora, a Itália no fim da Idade Média – período em que a gloriosa civilização cristã já decaía a olhos vistos – era um aglomerado de pequenos reinos e repúblicas que muitas vezes viviam em guerra entre si, ou guerras entre facções contrárias em uma mesma cidade. Catarina foi várias vezes chamada a ser o árbitro entre elas ou seu anjo pacificador. Assim, viajou ela de Siena para Florença, Luca, Pisa e Roma como pacificadora.

Sem nenhuma experiência política, coloca-se em face dos mais altos poderes de seu tempo. E não roga; exige, manda:

“Desejo e quero que façais desta maneira”… “Minha alma deseja que sejais assim”… “É a vontade de Deus e meu desejo”… “Fazei a vontade de Deus e a minha”… “Quero”. Assim falava à rainha de Nápoles, ao rei da França, ao tirano de Milão, aos bispos e ao Pontífice. Em seu semblante há algo que intimida e seduz ao mesmo tempo.

Não é de admirar. Pois, como ela mesma escreveu em uma de suas cartas, “tomei lições, como em sonhos, com o glorioso evangelista São João e com Santo Tomás de Aquino”.

Florença revoltara-se contra a Santa Sé; e mais de 60 cidades dos Estados Pontifícios juntaram-se a ela. O Papa lançou um interdito sobre essas localidades. Revoltas se seguiram.

Catarina entra como mediadora entre o Papa e os conjurados. Começou assim uma correspondência incessante com o Papa Gregório XI, cheia de piedade e amor filial, cada vez mais premente, em favor dos súditos dos Estados Pontifícios que tinham rebelado contra ele: “Santíssimo e dulcíssimo Pai em Nosso Senhor Jesus Cristo…Ó governador nosso, eu vos digo que há muito tempo desejo ver-vos um homem viril e sem temor algum… Não olheis para a nossa miséria, ingratidão e ignorância, nem para a perseguição de vossos filhos rebeldes. Ai! que a vossa benignidade e paciência vençam a malícia e a soberba deles. Tende misericórdia de tantas almas e corpos que morrem”.

Santidade que se exprime no espírito de Cruzada

Ansiava ela pela pacificação da Cristandade para que, unidos os cristãos se dispusessem a seguir em uma cruzada para libertar os Santos Lugares.

Dois grandes pensamentos agitavam a alma de Catarina: a pacificação da igreja, sua mãe querida, pela qual ela se sentia devorada de zelo e amor; depois, esse pensamento tão fecundo na Idade Média: a guerra santa das Cruzadas. Ela via essa Cruzada, objeto de seus votos, recuar para bem longe pelas discórdias que separavam os povos cristãos. Foi talvez essa dor que consumiu sua vida.

Catarina implorou ao Papa Gregório XI que deixasse Avignon, reformasse o clero e a administração dos Estados Pontifícios, e empenhou-se ardentemente em seu grande desígnio de uma Cruzada, na esperança de unir as forças da Cristandade contra os infiéis e restaurar a paz na Itália, livrando-a de companhias armadas de mercenários que a assolavam.

Ao Rei da França censurou por guerrear contra cristãos e não empenhar-se na Cruzada: “Eu peço-vos que sejais mais ativo para impedir tanto mal, e para ativar tanto bem, como é a recuperação da Terra Santa e daquelas almas infelizes que não participam de Sangue do Filho de Deus. Desta coisa vos deveríeis envergonhar, vós e os outros senhores cristãos; porque é uma grande confusão diante dos homens e abominação diante de Deus fazer a guerra contra os irmãos e deixar os inimigos; e querer tirar o que é dos outros e não reconquistar o que é seu. Eu vos digo da parte de jesus Crucificado que não demoreis mais a fazer esta paz. Fazei a paz e fazei toda a guerra contra os infiéis”.

Fim do “exílio de Avignon”: fruto de seu zelo

Mais sucesso teve ela com relação ao fim do “exílio de Avignon”. Desde 1309, com Clemente V, o Papado havia sido transferido para aquela cidade francesa, de onde era dirigida toda a Cristandade. Já Santa Brígida, Rainha da Suécia, tentara em vão trazer o Papa de volta a Roma.

Em Avignon, diante dos Cardeais, a intrépida Catarina ousou proclamar os vícios da corte pontifícia e pedir em nome de Cristo Jesus, a reforma dos abusos. Gregório XI a chamava para dar sua opinião em pleno Consistório dos Cardeais. Ela o convenceu a voltar a Roma. Em 17 de janeiro de 1377, Gregório XI deixou Avignon apesar da oposição do Rei francês e de quase todo o Sacro Colégio. Ele ainda hesitava no caminho, e ela o conjura a ir até o fim.

Mas a paz na Igreja não seria longa. Outra vez a república de Florença revoltou-se contra o Papa, que apelou para Catarina. rejeitada por aquela cidade, a santa quase foi martirizada. Gregório XI, por sua vez, gasto, envelhecido, sofrido, não resiste e entrega sua alma a Deus.

Para ocupar o trono de São Pedro, os cardeais elegem o Arcebispo de Bari, o qual toma o nome de Urbano VI. Conhecendo já Catarina e vendo nela o espírito de Deus, o novo Pontífice a chama a Roma para estar a seu lado. E era muito necessário, pois alguns cardeais franceses, desgostosos da rigidez do novo Papa, voltam para Avignon, anulam a eleição de Urbano, e elegem o antipapa Clemente VII. Inicia-se assim o chamado “Grande Cisma do Ocidente”

Catarina entrou em ação procurando ganhar para o verdadeiro Papa, reis e governantes da Europa, por meio de cartas cheias de amor à Igreja e animadas do enérgico sentimento do dever. Tentou inutilmente trazer de volta ao verdadeiro redil os três cardeais, autores principais do cisma. A Cardeais, Bispos e Prelados, Catarina escreveu 150 cartas; e a Reis, príncipes e governantes, trinta e nove. Á voz de Catarina de Siena, em favor do verdadeiro Pontífice, juntou-se a de outra Catarina, da Suécia, filha da grande Santa Brígida.

Angústia pelo futuro da Igreja.

As angústias que lhe causava as revelações sobre o futuro da Igreja foram para Catarina de Siena como uma paixão dolorosa. Ela clamava ao Senhor e pedia graça para essa Igreja, Esposa de seu Divino Filho. “Tomai, ó meu Criador este corpo que eu recebi de vossas mãos. Não perdoeis nem a carne, nem o sangue; rompei-o, lançai-o nas brasas ardentes; quebrai meus ossos, contanto que vos praza de me ouvir em favor de nosso Vigário”.

E entre o que Deus lhe revela havia coisas sublimes e outras terríveis. Ela pediu as seus secretários que, assim que a vissem entrar em êxtase, anotassem suas palavras. Daí nasceu o livro o diálogo entre uma alma (a dela) e Deus, conhecido hoje em dia pelo nome de Diálogo.

Audiência Geral - 24/11/2010


Esta profunda união com o Senhor é ilustrada por outro episódio tirado da vida desta insigne mística: a troca do coração. Segundo Raimundo de Cápua, que transmite as confidências recebidas de Catarina, o Senhor Jesus apareceu-lhe tendo na mão um coração humano vermelho resplandecente, abriu-lhe o peito, introduziu-o nele e disse-lhe: «Caríssima filhinha, dado que no outro dia tomei o teu coração, que tu me oferecias, eis que agora te concedo o meu, e doravante estará no lugar que o teu ocupava» (Ibidem). Catarina viveu verdadeiramente as palavras de São Paulo, «... já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).

Como a Santa de Sena, cada fiel sente a necessidade de se uniformizar com os sentimentos do Coração de Cristo para amar a Deus e ao próximo como o próprio Cristo ama. E todos nós podemos deixar-nos transformar o coração e aprender a amar como Cristo, numa familiaridade com Ele alimentada pela oração, pela meditação sobre a Palavra de Deus e pelos Sacramentos, principalmente recebendo de maneira frequente e com devoção a Sagrada Comunhão. Também Catarina pertence àquela plêiade de Santos eucarísticos, com a qual eu quis concluir a minha Exortação Apostólica Sacramentum caritatis (cf. n. 94). Estimados irmãos e irmãs, a Eucaristia é uma dádiva extraordinária de amor que Deus nos renova continuamente para alimentar o nosso caminho de fé, revigorar a nossa esperança e inflamar a nossa caridade, para nos tornar cada vez mais semelhantes a Ele.

Em volta de uma personalidade tão vigorosa e autêntica, foi-se constituindo uma verdadeira família espiritual. Tratava-se de pessoas fascinadas pela respeitabilidade moral desta jovem mulher de elevadíssimo nível de vida, e por vezes impressionadas também pelos fenómenos místicos aos quais assistiam, como os frequentes êxtases. Muitos se puseram ao seu serviço e sobretudo consideraram um privilégio ser orientados espiritualmente por Catarina. Chamavam-lhe «mãezinha», porque como filhos espirituais dela recebiam o alimento do espírito.

Também hoje a Igreja recebe um grande benefício do exercício da maternidade espiritual de numerosas mulheres, consagradas e leigas, que alimentam nas almas o pensamento de Deus, revigoram a fé das pessoas e orientam a vida cristã rumo a metas cada vez mais elevadas. «Digo-vos e chamo-vos filho — escreve Catarina, dirigindo-se a um dos seus filhos espirituais, o cartuxo Giovanni Sabbatini — enquanto vos dou à luz mediante contínuas orações e desejos diante de Deus, do mesmo modo como uma mãe dá à luz o seu filho» (Epistolário, Carta n. 141: A dom Giovanni de Sabbatini). Ao frade dominicano Bartolomeu de Dominici, ela estava habituada a dirigir-se com estas expressões: «Amadíssimo e caríssimo irmão e filhinho em Cristo, dócil Jesus».

Outra característica da espiritualidade de Catarina está vinculada ao dom das lágrimas. Elas exprimem uma sensibilidade sublime e profunda, uma capacidade de comoção e de ternura. Não poucos Santos tiveram o dom das lágrimas, renovando a emoção do próprio Jesus, que não impediu nem escondeu o seu pranto diante do sepulcro do amigo Lázaro e do sofrimento de Maria e de Marta, e da visão de Jerusalém nos seus últimos dias terrenos. Segundo Catarina, as lágrimas dos Santos misturam-se com o Sangue de Cristo, do qual ela falava com tonalidades vibrantes e imagens simbólicas muito eficazes: «Recordai Cristo crucificado, Deus e homem (...). Ponde-vos como objectivo Cristo crucificado, escondei-vos nas chagas de Cristo crucificado, afogai-vos no sangue de Cristo crucificado» (Epistolário, Carta n. 21: A alguém sobre cujo nome não se pronuncia).

Aqui podemos compreender por que motivo Catarina, embora estivesse consciente das faltas humanas dos sacerdotes, sempre teve uma grandíssima reverência por eles: eles dispensam, através dos Sacramentos e da Palavra, a força salvífica do Sangue de Cristo. A Santa de Sena convidava sempre os ministros sagrados, até o Papa, a quem chamava «doce Cristo na terra», a serem fiéis às suas responsabilidades, impelida sempre e unicamente pelo seu amor profundo e constante pela Igreja. Antes de morrer, ela disse: «Partindo do corpo eu, na verdade consumi e entreguei a minha vida na Igreja e pela Santa Igreja, o que é para mim uma graça extremamente singular» (Raimundo de Cápua, Santa Catarina de Sena, Legenda maior, n. 363).

Portanto, de Santa Catarina nós aprendemos a ciência mais sublime: conhecer e amar Jesus Cristo e a sua Igreja. No Diálogo da Providência Divina ela, com uma imagem singular, descreve Cristo como uma ponte lançada entre o céu e a terra. Ela é formada por três grandes escadas, constituídas pelos pés, pelo lado e pela boca de Jesus. Elevando-se através destas grandes escadas, a alma passa pelas três etapas de cada caminho de santificação: o afastamento do pecado, a prática da virtude e do amor, a união dócil e afectuosa com Deus.


Caros irmãos e irmãs, aprendamos de Santa Catarina a amar com coragem, de maneira intensa e sincera, Cristo e a Igreja. Por isso, façamos nossas as palavras de Santa Catarina, que podemos ler no Diálogo da Providência Divina, na conclusão do capítulo que fala de Cristo-ponte: «Por misericórdia Vós lavastes-nos no Sangue e por misericórdia desejastes dialogar com as criaturas. Ó Louco de amor! Não vos foi suficiente encarnar, mas também quisestes morrer! (...) Ó misericórdia! O meu coração ofega-me quando penso em Vós: para onde eu me dirija a pensar, mais não encontro do que misericórdia 

Grandes Santos que iluminaram o mundo – Plinio Maria Solimeio

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