terça-feira, 30 de abril de 2013

São Pio V - Cardeal Antonio Ghisleri - 225º Papa - 30 de abril

Desde a idade de quinze anos, este santo, com o nome de Miguel Ghisleri então, entrou como noviço na ordem de São Domingos. Persuadido de que as almas covardes não são talhadas para a verdadeira virtude, ocupou-se com toda a alma dos meios de cumprir os deveres da maneira mais perfeita. 

Empenhava-se dia por dia em avantajar-se aos outros irmãos em modéstia, humildade e obediência. Um desejo sincero de agradar a Deus e de cumprir sua vontade lhe dirigia todas as ações. A oração, o jejum, as vigílias e as diferentes práticas da mortificação constituíam as suas mais caras delícias. Apesar da fadiga do dia, empregava ainda muitas horas da noite para rezar e meditar, já diante do altar já na cela.


De todos aqueles que o cercavam, este grande Pontífice preferia particularmente os que lhe faziam notar as menores faltas. Um dia em que lhe recomendavam alguém de sua casa: "Ele é bom, respondeu, mas nunca me contradiz." Peçamos a Deus que nos conceda a graça de amar assim os que nos repreendem os nossos defeitos.

Lê-se ainda na vida deste santo Papa: "Um pobre rapaz, ao serviço de um gentil-homem milanês, seguindo um dia o mestre a cavalo, encontrou nas vizinhanças de Toncino um monge extenuado de fadiga, carregando um saco às costas, em tempo de excessivo calor. Dele se compadeceu e ofereceu ao religioso a garupa do cavalo. Aquele aceitou somente colocar o fardo, e continuaram a viagem lada a lado até um ribeirão onde o pobre rapaz quis absolutamente, para completar a caridade, pagar a passagem ao barqueiro, e não restituiu o saco senão no lugar do destino. Muitos anos haviam decorrido quando o bom servidor, para grande surpresa sua, foi chamado a Roma, a fim de ocupar um cargo honroso no palácio pontifical: o monge desconhecido tornara-se o Papa Pio V.

Mas, e a cidade de Roma se mostrava digna de tal Pontífice? Eis o que diz uma testemunha ocular, vinda do interior da Alemanha para confirmá-lo. É um senhor alemão, escrevendo de Roma no dia 9 de Abril de 1566, a um príncipe da mesma nação.

"Muitas vezes ouvi dizer, confesso, e li nos escritos dos inimigos de Jesus Cristo e de seu corpo místico, que é a Santa Igreja, das particularidades perversas, das quais não se pode falar sem horror, sobre a cidade de Roma. Cheguei a ponto de crer que a piedade, a religião e toda honestidade dela estivessem banidas, enquanto a impiedade, a impudicícia e os outros vícios de todo o gênero desfilavam impunemente com a cabeça erguida. Supliquei então a Deus que, sustentado pela sua graça, me fosse permitido visitar pessoalmente estes lugares, para reconhecer a verdade, e julgar se as coisas eram ou não tais como se dizia. Aquele que está sempre próximo dos que o invocam dignou-se ouvir minha prece, e proporcionou-me esta oportunidade tão favorável de tudo ver pessoalmente. Quando as coisas são diferentes, na realidade, do que parecem na boca dos ímpios que não cessam de vociferar a calúnia! Estou certo, ilustre príncipe. Diria, não soubesse eu que a moderação é particularmente grata a Vossa Alteza, que é a esta espécie de homens que o profeta Isaías se referiu, quando diz, no capítulo XXVIII: "Colocamos nossa esperança na mentira e fomos protegidos por Ele."

Com efeito, para render homenagem à verdade, por que dissimular o que os muros, as esquinas, as casas, os templos desta augusta cidade, testemunhas de tudo o que digo, falam tão gritantemente? Devo declarar que, desde o primeiro momento de minha estada em Roma, vejo, não sem espanto e admiração, os fiéis de ambos os sexos maravilhosamente dedicados aos exercícios de piedade. Durante toda a última quaresma, a observação do jejum era tão exata, a prece dos que se aproximavam do altar tão fervente, o zelo religioso que leva a visitar sucessivamente as diferentes igrejas da cidade tão ardente; a multidão dos que confessavam aos padres os pecados, dos quais estão vivamente contritos e que satisfazem à justiça divina tão grande, que nada acima dela se pode ver. Mas sobretudo nesta semana que, com justa razão, chamamos santa, pois representa aos nossos olhos a paixão de Jesus Cristo, e que todos, com empenho maior ainda do que anteriormente, se entregaram às práticas piedosas que tem eficácia de moderar nossos desejos e afastar o espírito de uma grande solicitude para as coisas terrenas. Não, faltam-me expressões para esboçar-vos um quadro do que vi, do que ouvi dizer dos exercícios tão múltiplos de penitência e de piedade a que se dedicavam. Dormem sobre o chão duro, praticam mortificações corporais, vigílias e oram e observam o jejum com a mais rigorosa exatidão. Enfim, para valer-me das palavras de um Santo Padre, todos os santos artifícios da penitência foram postos em execução para neles encontrar os bens da alma....

Sim, a cidade de Roma pareceu-me, durante toda a semana santa, tão estranha a todas as fainas do século. Tão aborta na contemplação de Jesus Cristo, imolando-se sobre a cruz como sacerdote e vítima, que não pude conter uma justa indignação contra os que não se pejam de desfigurar tão torpemente a cidade de Roma, nem impedir de detestar do fundo do coração a sua impiedade...

Mas quando o vigário de Jesus Cristo, ele próprio, na quinta-feira santa, dia da última ceia, se mostrou ao público, Deus imortal, que majestade em sua atitude e na sua continência!... A seu lado figuravam os cardeais que mais se distinguem pela piedade e sabedoria ... Na imensa praça que se estende diante da Basílica de São Pedro, acotovelava-se a multidão mais variada, que acorreu de todos os quadrantes do globo. Suplicante e respeitosa esta mole humana não eleva os olhos senão para venerar aquele a quem uma fé inquebrantável mostra o representante de Jesus Cristo na terra. Impregnada de temor e emoção, escuta a sentença de excomunhão que lêem em latim e em italiano, em voz suficientemente alta para ser entendida por todos os assistentes, dois cardeais especialmente designados, entre os quais se encontra o soberano Pontífice. A esta terrívelo sentença sucede, como o troar de um trovão, o ruído do canhão dos fortes, dos palácios e do castelo de Santangelo. Na verdade, ilustre príncipe, acreditei estar no grande dia do Senhor, dia de cólera e de catástrofe, que abalará o céu e a terra, na qual o Senhor, acompanhado de seus anjos, virá em sua majestade julgar o mundo, enquanto os homens de todos os países e de todas as idades, reunidos diante de sua faze, esperarão a recompensa ou a condenação.

No mesmo dia, à tarde, vi uma longa fila de penitentes, andando em ordem, os quais, na contrição de seus pecados, na profunda dor de haverem eles próprios causado a paixão, a crucificação de Jesus Cristo, serem eles próprios a vara que lhe dilacerou o corpo e o crime que lhe arrancou a vida, açoitavam as ilhargas com tantos golpes e de uma maneira tão lamentável que o sangue corria até a terra.

As associações de flagelantes são muito numerosas. Quando aportaram à basílica de São Pedro, ofereceram à sua contemplação a lança com que Longino transpassou o lado do Salvador, e o véu que reproduz os traços sagrados do semblante de Jesus. Tivesse eu cem línguas e cem bocas, não poderia repetir os soluços, os gritos, as preces, que emitiam em voz alta, ao prostrarem-se, tanto os flagelantes como a imensa mole que acorrera a acompanhá-los. Não me calarei, entrementes, e enquanto viver, para opróbrio de Satanás e para a confusão de seus ministros, atestarei de viva voz e por escrito, publicamente e em face do mundo inteiro, que vi neste tempo, as obras mais resplandecentes de piedade e de penitências."

Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VIII, p. 99 à 104

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