Um dos missionários da devoção marial mais conhecidos, incansável pregador da sagrada escravidão de amor a Maria Santíssima.
Conhecer a vida e a obra de São Luís Maria de Montfort é percorrer uma estrada que nos leva àquela fonte da qual emana a nossa vocação, para aí bebermos a mesma audácia e o mesmo ímpeto missionário que identificaram este santo. Com Montfort aprendemos a responder à missão do Espírito e a encarnar o “espírito de missão!” Por isso podemos afirmar que continua a ser, para nós, um guia sempre vivo e atual.
São Luís Maria Grignion de Montfort veio ao mundo aos 31 de janeiro de 1673. Seus pais eram João Batista Grignion de Bachelleraie e Joanna Visuelle de Chesnais, ambos de famílias nobres, mas pouco afortunados. Segundo dos 18 filhos, dos quais um se fez padre, outro entrou na Ordem de S. Domingos, e uma irmã tomou o hábito de São Bento. Guyonne Jeanne, geralmente chamada Luísa, tornou-se Irmã do SS. Sacramento. Morreu em odor de santidade e era predileta do Santo. Luís Por devoção a Nossa Senhora, no crisma acrescentou ao seu nome o de Maria.
Luís Maria, a exemplo do seu patrono, São Luís Gonzaga, tinha tomado por lema de sua vida: “Deus só”. Já nos dias de sua infância experimentou provas de amor e proteção especiais de Maria Santíssima, sua “Boa Mãe”, como ele habitualmente a chamava.
Luís herdou do pai um temperamento colérico e arrebatado, e dirá depois que “custava-lhe mais vencer sua veemência e a paixão da cólera que todas as demais juntas”. Mas conseguiu-o tão bem, que um sacerdote seu companheiro, nos últimos anos de sua vida, atesta que: “Realizou esforços incríveis para vencer sua natural veemência; e o conseguiu, e adquiriu a encantadora virtude da doçura”, que atraía tanto as multidões.
O pequeno Luís Grignion de Montfort sentia também muito pendor pela solidão, sendo comum retirar-se a um canto da casa para entregar-se à oração diante de uma imagem da Virgem, rezando principalmente o Rosário.
Em 1684 os pais o enviaram a estudar humanidades como externo no Colégio Tomás Becket, dos jesuítas de Rennes. Ali passará ele oito anos, com muito bom aproveitamento.
Todos os dias, antes de ir para o colégio, ele passava em alguma igreja para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento e a alguma imagem de Nossa Senhora. Muitas vezes, antes de voltar para casa, fazia o mesmo.
Amor pelos pobres e vocação sacerdotal
Cresceu nele um desejo inato de ajudar o próximo. Como diz um seu biógrafo, “seu bom coração, cheio de misericórdia e de compaixão para com o próximo, o levava a ocupar-se em amparar os escolares pobres que estudavam com ele no colégio. Não os podendo socorrer com seus próprios recursos, ia solicitar para eles esmolas junto às pessoas caridosas”.
Foi isso que o levou a frequentar um grupo de jovens reunidos por um sacerdote, o Pe. Bellier, aos quais este fazia palestras sobre temas piedosos, e os enviava depois aos hospitais para consolar e instruir os pobres. Era junto destes que o adolescente Luís passava parte de seus dias de folga.
Concluídos os estudos, decidiu tornar-se sacerdote, dirigindo-se então a Paris. Fez a longa viagem a pé, pedindo de esmola alojamento e comida.
Uma benfeitora obteve para ele que entrasse no célebre seminário de Saint Sulpice. Depois de muitas vicissitudes, foi ordenado sacerdote em 1700.
Intensa luta contra os jansenistas
Durante cinco anos não contínuos, o Pe. de Montfort – como era conhecido – trabalhou na diocese de Poitiers, seja como capelão do Hospital Geral, seja pregando missões nos arrabaldes da cidade, combatendo as blasfêmias, canções obscenas e embriaguezes. No Hospital Geral veio-lhe a idéia de formar uma associação de donzelas, que “dedicou à Sabedoria do Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do mundo e estabelecer entre elas a loucura do Evangelho”. Selecionou para isso 12 das jovens pobres mais fervorosas, elegendo como sua superiora uma cega. Mais tarde associou a esse grupo duas jovens da boa burguesia, a futura beata Maria Luísa Trichet e Catarina Brunet. “A sabedoria que preconiza Montfort se inspira, de um lado, na segunda carta de São Paulo aos Coríntios: a cruz, escândalo e loucura para tantos sábios, mas sabedoria de Deus, misteriosa e escondida”.
Entretanto os infeccionados pela heresia jansenista – essa espécie de protestantismo disfarçado-, junto com os livres pensadores, começaram uma campanha de calúnia contra esse missionário “extravagante”, que pregava uma “devoção exagerada” à Mãe de Deus. Ele precisou dissolver sua associação da Sabedoria e retirar-se do Hospital, apesar dos protestos veementes dos pobres e dos enfermos.
O Pe. de Montfort aproveitou essa ocasião para fazer uma peregrinação a Roma. Na Cidade Eterna, pôs-se à disposição do Sumo Pontífice para trabalhar pela salvação das almas em qualquer parte onde este o quisesse enviar. Clemente XI julgou que o missionário seria mais útil em sua própria pátria, ensinando a doutrina cristã às crianças e ao povo e fazendo reflorescer o espírito do cristianismo pela renovação das promessas do batismo. O Papa nomeou-o Missionário Apostólico. Mas estava ele sob a dependência dos bispos, muitos dos quais de tendência jansenista.
Missionário Apostólico em Nantes
Voltando à França, passou a trabalhar com o Pe. Leuduger, que tinha um grupo de missionários dedicados totalmente à evangelização do campo. Foi uma nova experiência para o Pe. Montfort, pois constatou a importância do canto e das grandes procissões nos esforços missionários. Ele escreverá várias dezenas de cantos populares, cujas letras se adaptavam a melodias profanas, muito em voga então.
Seis meses depois, vemo-lo em sua cidade natal, evangelizando a região, tendo associado a si dois leigos, um dos quais será o Irmão Maturin Rangeard, que continuará por 55 anos evangelizando como missionário leigo.
Mas esta atividade foi também proibida a Luís Grignion pelo bispo de Saint Malo, por influência dos jansenistas.
Em Nantes ele obteve o cargo de diretor das missões de toda a diocese, tendo ali trabalhado durante dois anos. Dessa época temos o seguinte depoimento de um seu contemporâneo: “O que mais se destacava nele era um dom e uma graça singular para ganhar os corações. Tendo-o ouvido, punha-se nele toda confiança. [...] A confiança pronta e fácil que as pessoas tinham nele era tão grande, que conseguiu estabelecer em várias paróquias as orações da noite, o rosário e a sepultura nos cemitérios [contra o costume de se enterrar nas igrejas]; o que não se tinha podido conseguir, [...] ele o conseguiu na primeira proposta que fez”.
A construção do Calvário de Pontchâteau
Numa missão em Pontchâteau, o Padre de Montfort entusiasmou-se com a ideia de erigir um grande calvário em uma colina próxima, e seu entusiasmo contagiou o povo. Durante 15 meses, de 400 a 500 pessoas de todas as idades e condições sociais trabalharam diariamente para aplainar o terreno e montar o calvário. O Pe. de Montfort estava exultante. Tinha já conseguido do bispo de Nantes a autorização para benzê-lo, e estava tudo preparado para o dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz. Mas, à véspera desse dia, chegou uma proibição formal do bispo de se proceder à cerimônia. O assunto levantou polêmica e chegou até Versalhes, onde, mal informado, o rei Luís XIV ordenou que demolissem aquilo que lhe apresentavam como uma fortaleza facilmente conquistável pelo inimigo vindo do mar…
Em seguida veio a proibição de pregar naquela diocese.
Por sua devoção ao Rosário, o Pe. de Montfort entrou para a Ordem Terceira de São Domingos, querendo pertencer a uma Ordem que honrava de maneira tão especial a Santíssima Virgem.
Recusado e até expulso de várias dioceses – uma vez lhe foi interditado até celebrar, tendo ele que partir imediatamente para chegar em tempo à diocese vizinha, a fim de rezar a Missa na festa da Assunção -, soube o missionário que seria bem recebido nas dioceses de Luçon e de La Rochelle, cujos bispos eram meritoriamente antijansenistas.
Essas duas dioceses compreendiam uma parte da região da Vandéia, que mais tarde, em 1793, levantar-se-ia contra a sangrenta e atéia Revolução Francesa. Foi na Vandéia que o Pe. de Montfort trabalhou durante os últimos cinco anos de sua vida, implantando naquelas populações uma sólida formação católica. Esta foi, décadas mais tarde, um decisivo fator para a gloriosa e épica Guerra da Vandéia, contra os ímpios revolucionários de 1789.
Carta Circular aos Amigos da Cruz
Nessa região, após as missões, fundava ele associações sob o nome de Irmãos e Irmãs da Cruz, para quem escreveu sua belíssima Carta Circular aos Amigos da Cruz.
Na cidade de La Rochelle, onde ainda pairavam os erros dos calvinistas, ele pregou sucessivamente para pobres, soldados, mulheres e homens. Operou várias conversões, principalmente pelo ministério da confissão, inclusive a de uma dama de qualidade que fez sua retratação pública, para edificação dos católicos e horror dos protestantes.
Em 1705, Montfort realizou a idéia, que havia muito, vivia em sua alma, de fundar uma “Companhia de sacerdotes, completamente dedicados às missões, e militando sob o estandarte e a proteção de Maria Santíssima”. Fundou a Companhia de Maria e para ela compôs uma regra conforme sua finalidade. Os missionários pertencentes a esta Companhia, seriam os herdeiros do seu entranhado amor a Maria: a missão deles seria fazer Maria conhecida e amada por todos a eles confiados. A Companhia fundada por Montfort tomou incremento e conta hoje com milhares de religiosos professos. Desde 1966 se acha estabelecida também no Brasil.
Também a Congregação das Filhas da Sabedoria teve grande desenvolvimento na França, e com ótimos resultados exerceu seu apostolado da caridade e do ensino. Maria Luísa Trichet foi a grande coluna sobre a qual São Luís estabeleceu sua congregação feminina.
Missionário foi até o último dia da sua existência. Abalado em sua saúde, fatigado pelas missões, fez um último esforço para receber dignamente o Bispo, que o surpreendeu com sua inesperada visita, com o único intento de observar de perto as virtude e méritos do Santo.
Nesta ocasião Montfort fez o seu último sermão, que versava sobre a ternura de Jesus para todos nós. Lágrimas de comoção brotaram dos olhos dos seus ouvintes. Não pode levar até o fim a sua alocução, pois a enfermidade o impossibilitava de concluir, e fê-lo recolher-se ao leito. E vinha a morte a grandes passos.
Rodeado dos seus íntimos, sequioso por receber sua última bênção, com o crucifixo traçou sobre eles o sinal da cruz. Com grande amor beijava ele o crucifixo, trazido de Roma e seus lábios pronunciavam os nomes de Jesus e Maria. De súbito caiu em breve sonolência. Agitadíssimo, dela despertou exclamando em alta voz: “Inutilmente me tentas: estou entre Jesus e Maria. Graças a Deus e a Maria! Minha carreira terminou; não pecarei mais”. Foram suas últimas palavras.
Assim no ósculo do Senhor exalou a sua puríssima alma no dia de 28 de abril de 1716 em Saint-Laurent-sur Sèvre.
A fama de sua santidade espalhou-se de tal maneira que logo depois de ter sido permitido por autoridade do Bispo diocesano e mais tarde pela Santa Sé, procederam-se as indagações canônicas.
Depois do reconhecimento dos milagres, Leão XIII, honrou-o com a glória da beatificação, precisamente no dia 22 de janeiro de 1888. Pio XII, o canonizou solenemente no dia 20 de julho de 1947. No dia 20 de julho de 1996 o Papa João Paulo II inseriu sua festa no calendário romano universal. Sua festa é comemorada com muito júbilo pelas famílias monfortinas e seus devotos, no dia 28 de abril de cada ano.
O Santo é apresentado com o crucifixo sustentado na mão esquerda. Com o pé direito ele pisa a cabeça de satanás representado em figura humana, tentando destruir um livro sobre o qual se lê o título: “Tratado da Verdadeira Devoção”. O semblante do Santo é sereno. Ele olha o demônio e parece dizer-lhe: “Em vão; tu não o destruirás!” A mão direita está estendida e um pouco elevada, apontando o céu num gesto de confirmação daquilo que ele parece nos dizer, isto é, a certeza da vitória sobre o demônio.
A devoção de Nossa Senhora aos olhos de São Luís Grignion de Montfort
São Luís Maria Grignion expõe em sua esplêndida obra, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, no que consiste a perfeita devoção a Nossa Senhora, além de despertar uma devoção mais ardente e fervorosa.
Na introdução de seu livro, o santo mostra como Nossa Senhora tem sido desconhecida pela humanidade e que é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser.
A ideia central dos escritos é de que Maria Santíssima, ainda desconhecida, deve ser conhecida, e, sendo conhecida, virá o reino de Cristo. O livro destina-se, pois, a propagar a devoção a Nossa Senhora para que venha o reino de Cristo. Trata-se, portanto, de uma obra de larga visão e de alcance histórico muito amplo, fixando-se no desejo de trazer o reino de Cristo para um mundo que não o possui, fazendo-o preceder em certo sentido pelo reinado de Maria Santíssima.
Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, esta é a razão teológica pela qual São Luís demonstra que o Reino de Cristo será antecedido pelo reinado de Nossa Senhora, portanto, a devoção a Jesus Cristo deve vir ao mundo por intermédio de Maria Santíssima. Espalhar a devoção a Maria Santíssima é, pois, nesta perspectiva, a maior obra a que um homem pode aspirar.
São Luís Grignion, propõe-se a preparar o futuro reino de Cristo, fazendo o que lhe parece ser o mais essencial, o mais importante, o mais urgente, o que produzirá quase que automaticamente o resto: espalhar a perfeita devoção a Maria.
Agrande lição que São Luís fixa já no início do "Tratado" e desenvolve mais longamente depois, é a de que na formação religiosa é condição básica e indispensável a devoção a Nossa Senhora. Não se formando esta devoção, o próprio regime de expansão da graça na alma fica comprometido, e nada será possível conseguir. Portanto, a devoção a Ela é condição necessária para tudo quanto diz respeito à salvação.
São Luís Grignion tinha, pois, em mente, com este livro, uma obra da mais alta importância para a renovação dos séculos futuros. A nós cabe, portanto, ser sôfregos em possuir esta devoção a Nossa Senhora por ele pregada. Se ela é, como vimos, indispensável para que o mundo se regenere em Nosso Senhor, e se queremos com este escopo trabalhar, é necessário ir em busca desta devoção.
O Tratado da Verdadeira Devoção não é, pois, um livro qualquer de piedade, apresentando uma devoção a algum santo, boa por certo, mas que se pode ou não, indiferentemente, ter. A devoção a Nossa Senhora é uma devoção essencial, "conditio sine qua non" para nossa vida. E a poderemos atingir no mais alto grau com a forma e com os fundamentos desenvolvidos por São Luís Grignion de Montfort.
Não se deve pensar que esta devoção é um estilo de santidade inaugurado por São Luís Grignion. A devoção especialíssima e intensíssima a Nossa Senhora é característica de todos os santos. E, embora não se possa dizer que todos a tenham levado ao ponto a que a levou São Luís, estudando a vida de piedade de qualquer deles notamos sempre uma devoção ardentíssima a Ela, que é a dominante logo abaixo do culto a Deus Nosso Senhor.
Ela, contudo, se reveste em cada um de aspectos particulares; é raro neste sentido encontrar alguém que não tenha encontrado um aspecto novo de piedade em relação a Nossa Senhora. E não há um só que não conheça dever à intercessão d'Ela, não só o seu progresso espiritual, mas até mesmo a sua perseverança. Todos passam por duras provas espirituais, das quais se veem livres por uma intervenção especial d'Ela.
Estas afirmações não devem ficar no vácuo; é preciso sabermos aplicá-las concretamente em nossa vida espiritual: nas dificuldades, nos problemas, nas lutas. É preciso lembrarmo-nos de que Nossa Senhora é a onipotência suplicante, e termos n'Ela uma confiança ilimitada. Mas nem sempre a temos tão arraigada no espírito quanto desejaríamos.
Imaginemos, por exemplo, que Deus aparece à nossa mãe terrena e lhe dá a possibilidade de nos fazer todo o bem que quiser; ficaríamos, evidentemente, radiantes, pois, tudo conseguiríamos com facilidade. Ora, Nossa Senhora nos ama imensamente mais do que todas as mães terrenas reunidas amariam seu filho único...
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