Homilia de D. Henrique Soares da Costa - Solenidade de Todos os Santos
Mateus 5,1-12
Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: "Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
Louvado Seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!
Hoje, a Igreja volta seu olhar e seu coração para o céu e enche-se de alegria ao contemplar uma multidão que participa da glória e da plenitude do Deus Santo.
A nossa fé nos ensina que somente Deus é Santo. Na Bíblia, "santo" significa, literalmente, "separado". Deus é aquele que é separado, absolutamente diferente de tudo quanto exista no céu e na terra: Ele é único, Ele é absoluto, Ele sozinho se basta, sozinho é pleno, sozinho é infinitamente feliz. Ele é Deus! Por isso, Santo, em sentido absoluto, é somente o Deus uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo. A Jesus, o Filho eterno feito homem, nós proclamamos em cada missa: "Só vós sois o Santo"; ao Pai nós dizemos: "Na verdade, ó Pai, vós sois Santo e fonte de toda santidade"; ao Espírito nós chamamos de Santo.

Nesta perspectiva, podemos contemplar a estupenda leitura do Apocalipse que escutamos como primeira leitura. O que se vê aí? Uma multidão. Primeiro, cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos de Israel. Isto simboliza todo o Israel. Recordemos: 12 é o número do Povo do Antigo Testamento. Pois bem, cento e quarenta e quatro mil equivale a 12 x 12 x 1000, isto é, à totalidade de Israel. Deus não se cansou de chamar o povo da antiga aliança: Israel haverá de ser salvo pelo sangue de Cristo. Mas, há ainda mais: "Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro". Essa multidão são todos os povos da terra, chamados por Cristo, na Igreja, para a salvação, para a santificação que Deus nos oferece. Notemos bem: "uma multidão que ninguém podia contar". A salvação é para todos, a santidade não é para um grupinho de eleitos, para uma elite espiritual. Todos são chamados a essa vida divina que Deus quer partilhar conosco, todos são chamados à santidade! "Trajavam vestes brancas e traziam palmas nas mãos. São os que vieram da grande tribulação e lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro". Eis quem são os santos: aqueles que atravessaram as lutas desta vida, as tribulações desta nossa pobre existência, unidos a Cristo; são os que venceram em Cristo – por isso trazem a palma da vitória; são os que não tiveram medo de viver e, se caíram, se erraram, foram, humildemente, lavando e alvejando suas vestes no sangue precioso de Cristo: são santos não com sua própria santidade, mas com a santidade do Cristo-Deus. Nunca esqueçamos: ninguém é santo com suas forças, ninguém é santo por sua própria santidade: só em Cristo somos santificados, pois somente Cristo derrama sobre nós o Espírito de santidade. O nosso único trabalho é lutar para acolher esse Espírito, deixando-nos guiar por ele e por ele sermos transfigurados em Cristo!

Num mundo que vive estressado, que corre sem saber para onde... num mundo que já não crê nos verdadeiros valores, porque já não crê em Deus, contemplar hoje todos os santos é recordar para onde vamos e qual é o sentido da nossa vida! Não tenhamos medo de ser de Deus, não tenhamos medo de testemunhar o Evangelho, não tenhamos medo de alimentar nossa visa com o Cristo, na sua Palavra e na sua Eucaristia para sermos inebriados da vida do próprio Deus.
Infelizmente, muitos hoje têm como heróis os atletas, os atores, os cantores e tantos outros que não têm muito e até nada para ensinar. Quanto a nós, que nossos heróis e modelos sejam os santos e santas de Cristo, que foram heróis porque se venceram e correram para o Cristo! Que eles roguem por nós, pois o que eles foram, nós somos e o que eles são, todos nós somos chamados a ser.
Todos os Santos e Santas de Deus, rogai por nós!
D. Henrique Soares da Costa